domingo, 3 de fevereiro de 2008

relações entre o sionismo e o nazi-fascismo

LABIRINTOS DO FASCISMO (excerto sobre o sionismo), João Bernardo

Relação sistemática entre o sionismo e o fascismo italiano.

Na primeira audiência que concedeu a representantes do sionismo, em Dezembro de 1922, pouco depois de ter alcançado o poder, Mussolini declarou-lhes que considerava o seu movimento como um instrumento da política de Londres.
Chaim Weizmann, presidente da Organização Sionista Mundial, visitou Mussolini pela primeira vez em Janeiro de 1923, sem conseguir alterar-lhe a posição relativamente ao estabelecimento judaico da Palestina.
No entanto, a atitude de Mussolini mudou, e a sua evolução a respeito do estabelecimento dos judeus na Palestina foi tanto mais notável quanto Weizmann chefiava a facção pró-britânica, ou menos antibritânica, do sionismo.
Em 1926, ao receber de novo Weizmann, Mussolini deixou-o convencido de que já não se opunha ao projecto sionista e que ajudaria a implantar uma soberania judaica na Palestina desde que ela não se mostrasse dependente da influência britânica.
A partir de então os principais dirigentes sionistas mantiveram contactos regulares com Roma e a imprensa sionista mundial expressou o seu apreço pelo regime fascista italiano.
Em 1933, numa época em que Weizmann abandonara a chefia da Organização Sionista Mundial e ocupava apenas o cargo de presidente da Agência Judaica da Palestina, Mussolini recebeu o novo chefe do órgão supremo do sionismo, o que não o impediu de se encontrar com Weizmann dois meses depois, mantendo uma conversa de que se desconhece o conteúdo global.
Em 1934 Weizmann foi outra vez acolhido por Mussolini, e os jornais italianos deram grande publicidade ao encontro. Nesta ocasião o Duce prometeu apoio ao dirigente sionista e, afirmando que Jerusalém não podia tornar-se uma capital árabe, declarou-se favorável à criação de um Estado judeu na Palestina, com a condição de não estar na dependência da Grã-Bretanha. Em contrapartida, Weizmann, que era um universitário e um investigador na área da química orgânica, ofereceu a Mussolini os seus préstimos para desenvolver uma indústria química e farmacêutica na Itália, tornando o país independente da Alemanha nestes ramos. Mas embora ele prometesse recrutar pessoal especializado e mobilizar investimentos, nada resultou do projecto.

Surgimento de uma corrente fascista do sionismo. Vladimir Jabotinsky e o revisionismo.

No Executivo Sionista foi Vladimir Jabotinsky quem encabeçou a oposição da direita radical à presidência de Chaim Weizmann.
Jabotinsky foi-se autonomizando progressivamente do Executivo, demitindo-se em 1923, dois anos depois de ter sido eleito para esse órgão, e lançou em 1925 a Organização Revisionista Sionista, que mais tarde se converteu em União Mundial do Movimento Revisionista, enquanto tendência interna do sionismo.
No Congresso Sionista Mundial de 1931 o revisionismo contou com 25% dos delegados, formando a terceira maior tendência.
Os revisionistas abandonaram a Organização Sionista na sequência do congresso de 1933.
Em 1935 os revisionistas fundaram a Nova Organização Sionista. Depois disso «revisionistas» continuou a ser a designação dada correntemente aos dissidentes.

A convicção de que o revisionismo era um fascismo foi muito corrente na época e os próprios apoiantes de Jabotinsky a sustentaram.
Wolfgang von Weisl, director financeiro da Nova Organização Sionista, declarou numa entrevista em 1936 que, «ainda que houvesse diversas opiniões entre os revisionistas, em geral eles simpatizavam com o fascismo» e que «ele pessoalmente era um apoiante do fascismo».
«Vladimir Hitler» era como o sionista socialista Ben-Gurion designava com frequência Vladimir Jabotinsky.
Mussolini classificou Jabotinsky como «fascista» durante uma conversa que teve em 1935 com alguém que seria em breve o mais alto dignitário da sinagoga romana.

Jabotinsky opunha-se à luta de classes e à planificação, defendendo a instauração de uma ordem económica e social assente numa câmara corporativa e na arbitragem dos conflitos laborais pelo Estado.
O revisionismo encontrou apoio social nos pequenos e médios patrões que começavam então a emergir entre os judeus estabelecidos na Palestina.
Os seus adeptos jovens estavam enquadrados numa milícia, a Betar, fundada em 1923 e profundamente militarizada tanto na estrutura como na ideologia.
A Betar pôs-se várias vezes à disposição dos capitalistas judaicos para furar as greves convocadas pelos sindicatos sionistas.

Só em 1934 os revisionistas italianos estabeleceram relações significativas com as autoridades fascistas.
A partir do final desse ano a academia naval dirigida pelo PNF em Civitavecchia, não longe de Roma, passou a habilitar dezenas de membros da Betar, que participaram nos mesmos cursos dos seus colegas italianos e até desfilaram perante Mussolini. Ao todo foram formados 134 cadetes judeus, e só a promulgação das leis raciais, em 1938, pôs termo a esta colaboração. Aqueles cadetes integraram as primeiras unidades do que viria a ser a marinha de guerra israelita, fundada graças a Mussolini.
Jabotinsky procurara levar a experiência mais longe e pedira autorização para constituir em Itália uma escola de instrutores onde os jovens revisionistas recebessem preparação militar, mas não o conseguiu.

Os nacionais-socialistas alemães concentraram o seu ataque contra as organizações judaicas assimilacionistas e estabeleceram uma plataforma de entendimento com os sionistas. É que os sionistas, tal como os nazis, pretendiam impedir a miscigenação.

Sem a ajuda dos dirigentes sionistas, o nacional-socialismo alemão não poderia ter levado tão longe o programa de extermínio dos judeus.

A corrente assimilacionista era representada na Alemanha pela Associação Central dos Cidadãos Alemães de Confissão Judaica, à qual pertenciam antes de 1933 95% por cento dos membros de organizações judaicas na Alemanha. Esta Associação especificava nos estatutos que o seu primeiro objectivo era a «luta contra o anti-semitismo».
Em sentido oposto, durante a república de Weimar os sionistas alemães defenderam uma atitude passiva perante a ascensão do nazismo, considerando a hostilidade aos judeus tão lógica como a sua própria recusa em se integrarem na sociedade germânica.
Figuras eminentes do sionismo germânico expressaram publicamente a opinião de que a chegada de Hitler ao poder era proveitosa para os judeus porque comprometia definitivamente os assimilacionistas, obrigava todos os judeus a juntarem-se numa entidade única e reforçava a noção de identidade racial do judaísmo.
Em seguida, desde 1933 até ao começo da guerra mundial foram muito poucos os sionistas a participar na resistência clandestina.

A grande parte das medidas anti-semitas do nazismo concentrou-se nos assimilacionistas da Associação Central.
O sionismo foi a componente do judaísmo menos vitimada pelo racismo hitleriano. A organização sionista alemã, apesar das restrições impostas à sua actividade e das proibições que várias vezes lhe atingiram a imprensa, pôde manter a sede aberta até Novembro de 1938.

Da colaboração entre os dirigentes sionistas e o departamento SS especializado nestes assuntos resultou a criação de uma rede de emigração, que continuou a funcionar mesmo depois do início da guerra mundial.
As autoridades judaicas da Palestina destacavam regularmente emissários para contactar os SS ou directamente a Gestapo, de maneira a aumentar o fluxo de emigrantes. Estes agentes de recrutamento sionistas foram por vezes autorizados a visitar os campos de concentração e a escolher entre os detidos quem eles preferiam expedir para a Palestina: homens de negócios e jovens que constituíssem uma força de trabalho vigorosa.
Os SS chegaram a criar algumas fazendas experimentais, onde os candidatos à emigração aprenderam técnicas agrícolas modernas que lhes permitiram depois cultivar com eficácia e produtividade as terras tomadas aos árabes.
Em Agosto de 1933 o barão Leopold von Mildenstein, perito SS para as questões judaicas, visitou a Palestina a convite da Organização Sionista Mundial.
Em 1937 Adolf Eichmann, especialista SS das questões judaicas e encarregado de organizar a emigração de judeus - e mais tarde o seu extermínio - foi convidado pelos dirigentes sionistas a visitar a Palestina. Mas, chegados a Haifa, Eichmann e o seu superior hierárquico não conseguiram obter um visto de entrada das autoridades britânicas e viram-se obrigados a retroceder para o Egipto, onde tiveram várias reuniões com um representante sionista que haviam já conhecido em Berlim. De acordo com o relatório apresentado pelos dois membros dos SS, o agente sionista comunicara-lhes o apreço dos nacionalistas judeus pela política nacional-socialista, que favorecia a emigração para a Palestina, e prestara-lhes informações acerca da actividade clandestina dos comunistas, incluindo os comunistas alemães.

A execução das medidas anti-semitas e mesmo o genocídio só puderam ocorrer porque os chefes sionistas colaboraram com elas, em todos os estádios do processo, até ao fim. Só desta maneira podemos entender a facilidade com que o nacional-socialismo foi progressivamente excluindo os judeus da vida profissional e os foi aprisionando sempre em maior número, para finalmente encetar o seu extermínio sistemático.
Logo nos primeiros dias do regime nazi, os sionistas tomaram a iniciativa de concentrar numa instituição única, a Representação do Reich dos Judeus na Alemanha, as organizações das comunidades judaicas, que até então haviam mantido em cada cidade uma existência autónoma.
Quando a polícia, em Julho de 1939, tomou o controlo da Representação, convertendo-a numa Associação, os nazis passaram a ter ao seu dispor o mecanismo que lhes permitiria implementar algum tempo depois a «solução final».
Por um lado, a Associação do Reich dos Judeus na Alemanha prosseguiu as antigas funções da Representação, administrando as escolas judaicas e exercendo a benemerência em benefício dos correligionários pobres.
Por outro lado, os arquivos e os funcionários da Associação ficaram de um momento para o outro ao serviço directo das autoridades nazis.
Em 1941, quando começou a deportação maciça para os campos de concentração, os funcionários judeus da Associação que até então haviam tratado da emigração dos seus correligionários encarregaram-se de estabelecer as listas dos que seriam deportados e de notificá-los desta decisão, enquanto os funcionários judeus da secção de estatística da Associação mantinham a Gestapo ao corrente de todas as alterações demográficas das comunidades judaicas.
Tanto no Reich como nos territórios ocupados durante a guerra as comunidades judaicas elegeram Conselhos, e os chefes destes Conselhos receberam poderes cada vez mais absolutos, passando com frequência a comportar-se como verdadeiros autocratas.
As autoridades nacionais-socialistas estipulavam os números globais dos judeus destinados aos campos de concentração, assim como, mais tarde, determinavam quantos deviam ser incluídos em cada etapa sucessiva do programa de extermínio. Mas eram os Conselhos Judaicos
quem distribuía aos seus correligionários a estrela amarela, a partir do momento em que se tornou obrigatório o porte deste símbolo,
quem detalhava as listas nominais dos judeus que deviam ser internados nos campos e que, posteriormente, seguiam para a morte colectiva,
quem registava os haveres das vítimas, de maneira a que os serviços competentes do Reich pudessem mais facilmente proceder ao sequestro e à expropriação,
e quem dispunha de uma poderosíssima e tentacular polícia judaica, criada expressamente para o efeito, que ajudou a deter muitas centenas de milhares de judeus e a encaminhá-los ordeiramente para as estações ferroviárias de onde partiam para os locais de aprisionamento ou, depois, para o destino fatal.
No final de 1939 o Conselho do ghetto de Varsóvia ofereceu-se mesmo para arrebanhar a mão-de-obra judaica obrigada aos serviços de trabalho gratuito.
Os Conselhos Judaicos não se sustentavam apenas graças à polícia semita e à força que lhes emprestava o regime nazi, e apoiavam-se também, ou sobretudo, na influência e nas clientelas. Os seus membros eram geralmente escolhidos entre pessoas que ocupavam já naquele meio étnico uma situação proeminente quer pela profissão quer pela fortuna quer pelas funções religiosas, e sem o conservadorismo político e social de um bom número de judeus não teria sido possível dominar tão facilmente a totalidade da população judaica nem chaciná-la numa proporção tão elevada.
A táctica hitleriana consistiu em usar uma elite de judeus para prosseguir um plano que visava, afinal, exterminá-los todos.
«Em qualquer lado onde vivessem judeus», observa Hannah Arendt, «existiam dirigentes judaicos de reconhecido prestígio; e estes dirigentes, praticamente sem excepção, cooperaram de variadas maneiras e por variadas razões com os nazis. Para dizer toda a verdade, se o povo judaico tivesse estado então desprovido de organizações e de dirigentes a situação teria sido caótica e não faltariam os motivos de sofrimento, mas dificilmente o número total de vítimas se contaria entre quatro milhões e meio e seis milhões». Esta autora aceita como um cálculo muito verosímil que, enquanto morreram 99% daqueles que se deixaram persuadir pelos Conselhos Judaicos e seguiram para os campos de concentração, entre os fugitivos só cerca de metade teria sido capturada e liquidada.

Em 1943, no ghetto de Varsóvia, quando vários detidos decidiram pôr termo à maneira submissa como 85% dos habitantes haviam sido entregues aos seus carrascos, começaram por isolar politicamente a direcção sionista do Conselho. Em seguida, ao passarem à acção, o alvo inicial foram os colaboracionistas, especialmente os membros da polícia judaica, o que comprometeu ainda mais o poder do Conselho. Só depois de destruída a rede de repressão e de clientelismo que havia assegurado aos chefes sionistas o controlo do ghetto é que a insurreição pôde deflagrar.

O Ha’avara.

O Ha’avara (Acordo de Transferência) foi uma instituição resultante do acordo comercial e financeiro que a Agência Judaica assinou em meados de 1933 com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reich para permitir a transferência de fundos pelos judeus alemães que desejassem fixar-se na Palestina.
Este acordo, próximo dos sistemas de clearing, manteve-se em vigor até ao começo da guerra mundial e, segundo os seus termos, o emigrante potencial podia depositar uma soma em marcos num banco na Alemanha, em conta bloqueada. Em seguida, ele assinava um contrato com um exportador alemão para enviar mercadorias para o estrangeiro, geralmente para a Palestina, embora pudessem também ter outros destinos. O exportador alemão era pago em marcos, com o dinheiro existente na conta bloqueada. A Agência Judaica da Palestina encarregava-se da venda das mercadorias exportadas. E uma vez desembarcado na Palestina, o recém-chegado recebia em libras esterlinas o produto dessa venda, que lhe era entregue pela Agência Judaica.
As autoridades nazis impunham condições especialmente desfavoráveis aos emigrantes e a economia germânica beneficiava com o fluxo das exportações.
Por seu lado, os judeus que tinham fortuna suficiente para participar no Ha’avara reduziam as perdas acarretadas pelo abandono do país, que eram três vezes mais elevadas, ou cinco vezes mais elevadas, quando a emigração ocorria fora deste sistema.
Além disso, as autoridades britânicas na Palestina permitiam sempre a entrada de quem trouxesse uma soma superior a 1.000 libras, equivalente a 5.000 dólares, mesmo que já estivesse preenchida a quota de imigração fixada para esse ano. Enquanto os sionistas pobres marcavam passo, os ricos adiantavam-se, e acima de 16.500 conseguiram estabelecer-se deste modo na Palestina.
Ao mesmo tempo, os emigrantes viam-se detentores de investimentos bastante consideráveis no novo lugar de residência.
Quanto aos haveres da comunidade judaica alemã, globalmente considerados, os efeitos do Ha’avara não foram muito significativos, porque o acordo estabelecia para cada emigrante um limite de 50.000 marcos, correspondentes a 20.000 dólares ou 4.000 libras, o que o tornava pouco convidativo para os possuidores das maiores fortunas. Assim, enquanto a emigração dos judeus alemães canalizou 650.000.000 de dólares para os Estados Unidos e 60.000.000 para o Reino Unido, além de somas igualmente substanciais para outros países, em direcção à Palestina o Ha’avara transferiu pouco mais de 40.000.000 de dólares.
Os efeitos, todavia, foram muitíssimo consideráveis sob o ponto de vista da economia judaica na Palestina. Cerca de 60% dos investimentos totais realizados na Palestina entre Agosto de 1933 e Setembro de 1939 resultaram de transferências executadas no âmbito do Ha’avara, sendo estes capitais aplicados sobretudo nos ramos da metalurgia, do têxtil e da indústria química.
Num território pobre e numa comunidade relativamente reduzida aquelas somas foram muito significativas, e asseguraram grande prosperidade à Palestina num período em que todo o mundo, excepto a União Soviética, sofria uma gravíssima e prolongada depressão económica.
Ao mesmo tempo que os judeus de vários países se esforçavam por organizar o boicote dos produtos do Reich, a Organização Sionista Mundial violava as barreiras e a Palestina encontrava-se inundada de artigos alemães. Avaliadas em marcos, as exportações do Reich para a Palestina praticamente duplicaram entre 1933 e 1937, a tal ponto que em 1936 a Organização Sionista criou uma casa comercial destinada a vender produtos germânicos na Grã-Bretanha, e os judeus da Palestina fretavam em condições competitivas barcos alemães para exportar citrinos para a Bélgica e a Holanda.
O Ha’avara converteu-se numa importante instituição bancária e comercial, que no auge da actividade empregava um pessoal técnico de 137 pessoas nos seus escritórios de Jerusalém.
Os dirigentes sionistas pretenderam ampliar o âmbito dos mecanismos de transferência e criar uma verdadeira instituição financeira, mas as autoridades nacionais-socialistas recusaram-se.

A implementação do Ha’avara levou a uma crise aguda no interior do sionismo. A iniciativa das conversações para o estabelecimento do acordo comercial e financeiro coubera aos representantes da ala maioritária, de propensões democráticas e liberais, e quem mais se opôs no meio judaico, além dos comunistas e dos socialistas de esquerda, foram os revisionistas, que aliás haviam sido os primeiros a declarar colectivamente um boicote às mercadorias alemãs. Não há grandes dúvidas de que os representantes de Jabotinsky na Palestina assassinaram o secretário político da Agência Judaica, responsável pela proposta originária daqueles mecanismos financeiros, ou pelo menos inspiraram o seu assassinato.

Avraham Stern.

Em 1939 Jabotinsky incitou os seus partidários a apoiarem o esforço de guerra britânico, considerando que a vitória de Hitler constituiria o perigo mais grave para a Palestina judaica. Quando morreu, em 1940, nos Estados Unidos, Jabotinsky encontrava-se num considerável isolamento.
Nestas circunstâncias, a maioria dos membros da Irgun [em 1931 fora criada uma organização terrorista clandestina, dedicada às acções armadas contra os árabes e os britânicos, que adoptou depois o nome de Irgun Z’vai Le’umi (Organização Nacional Militar) e cujos membros provinham na maior parte da Betar] colocou-se sob a chefia de Avraham Stern, ou Yair, um fascista radical adepto de uma orientação estritamente pró-mussoliniana e antibritânica.
Em 1940 Stern fundou uma nova Irgun, responsável pelo recrudescimento dos atentados e assassinatos dirigidos contra a presença britânica.
Levando esta estratégia ao extremo, Stern propôs ao Reich uma aliança de guerra, e em Janeiro de 1941 um representante seu entregou uma missiva a um membro dos serviços de espionagem da Wehrmacht e a um alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reich: «Tem sido várias vezes afirmado nos discursos e declarações dos principais homens de Estado da Alemanha nacional-socialista que uma exigência prévia da Nova Ordem na Europa é a solução radical do problema judaico através da evacuação (“uma Europa livre de judeus”)», começava o documento enviado por Stern. «A evacuação das massas judaicas da Europa é uma condição prévia para resolver o problema judaico. Mas isto só pode ser realizado e levado a cabo através do estabelecimento dessas massas na pátria do povo judaico, a Palestina, e através da fundação de um Estado judaico nas suas fronteiras históricas. [...] A ONM [ou seja, neste caso, a facção maioritária da Irgun dirigida por Stern], que não ignora a boa vontade demonstrada pelo governo do Reich alemão e pelas suas autoridades para com a actividade sionista no interior da Alemanha e para com os planos de emigração sionistas, considera que: 1) Poderão existir interesses comuns entre o estabelecimento de uma Nova Ordem na Europa, em conformidade com as concepções germânicas, e as verdadeiras aspirações nacionais do povo judaico, tal como elas são encarnadas pela ONM. 2) Poderá ser possível a cooperação entre a nova Alemanha e um renovado judaísmo racial e nacional, e 3) A manutenção e o reforço de uma futura posição de poder germânica no Próximo-Oriente serão favorecidos pela fundação numa base nacional e totalitária do Estado judaico histórico, ligado por um tratado ao Reich alemão. Partindo destas considerações, e com a condição de as referidas aspirações nacionais do movimento pela liberdade de Israel serem reconhecidas pelo Reich alemão, a ONM propõe-se tomar uma parte activa na guerra do lado germânico. Esta proposta da ONM, que inclui a actividade nas esferas militar, política e de espionagem, tanto na Palestina como, consoante os nossos preparativos, fora da Palestina, deverá estar relacionada com o treino militar e a organização dos recursos humanos judaicos na Europa, sob a direcção e o comando da ONM. Essas unidades militares deverão participar na luta pela conquista da Palestina, se for decidida a abertura desta frente de combate». Depois de resumir a história da Irgun e as suas posições políticas, a missiva concluía: «Tanto na sua ideologia como na sua estrutura, a ONM está muito próxima dos movimentos totalitários europeus. A capacidade de combate da ONM jamais poderá ser paralisada ou seriamente comprometida quer por medidas defensivas tomadas pela administração inglesa e pelos árabes quer por medidas tomadas pelos socialistas judaicos».
As autoridades nacionais-socialistas desprezaram esta proposta.
Stern foi morto pela polícia britânica no começo de 1942.

No Estado de Israel, o Likud (Coligação) é o herdeiro da corrente revisionista e fascista do sionismo. O primeiro chefe de governo do Likud, Menachem Begin, que exerceu funções desde 1977 até 1983, fora na sua juventude um dos dirigentes das milícias revisionistas e, embora se mantivesse fiel a Jabotinsky, ele apoiava ideologicamente a ala mais radical. Jabotinsky nomeara-o em 1939 para comandar a Betar na Polónia, precisamente quando os militares anti-semitas ajudavam os sionistas a preparar uma invasão armada da Palestina. Com estas credenciais Begin assumiu no final de 1943 a chefia da Irgun, lançando-a em acções violentas contra os britânicos. Em 1948, juntamente com os representantes da ala caracterizadamente fascista do revisionismo, Begin fundou o Partido da Liberdade, que assegurou à extrema-direita sionista um novo alento na vida política do Estado de Israel.
Em The New York Times, 4 de Dezembro de 1948, foi publicada uma carta enviada por várias figuras proeminentes do judaísmo, incluindo Einstein e Hannah Arendt, onde se lê: «Um dos mais perturbadores fenómenos políticos do nosso tempo é o aparecimento do Partido da Liberdade no recém-criado Estado de Israel, um partido político que nas suas formas de organização, nos seus métodos, na sua filosofia política e na sua audiência social tem um parentesco muito estreito com os partidos nazis e fascistas. Ele deveu a sua formação aos membros e seguidores da antiga Irgun Z’vai Le’umi, uma organização terrorista, de direita e xenófoba [...]».
O sucessor de Begin à frente do governo israelita, Yitzhak Shamir, contara-se entre os membros da Irgun que se colocaram sob o comando de Stern, em protesto contra a decisão de Jabotinsky de instaurar tréguas com os britânicos durante a segunda guerra mundial. É pouco verosímil que Shamir não estivesse ao corrente dos contactos de Stern com os nazis, porque ocupava uma posição suficientemente elevada para pertencer ao triunvirato que reconstruiu a organização alguns meses após o assassinato de Stern.

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